Alergia é Notícia no JB

O Dr. Giovanni Di Gesu, Coordenador do Grupo de Estudo sobre Diagnóastico em Doenças Alérgicas foi entrevistado pela jornalista Juliana A. Rocha do Jornal do Brasil, Rio de Janeiro. Leia: 1) Qual a diferença entre intolerância alimentar e alergia alimentar? Quais os efeitos de cada uma no organismo? Alergia alimentar é o termo usado para reações de hipersensibilidade a alimentos, onde há um mecanismo imunológico envolvido. Após o contato com proteínas presentes em certos alimentos, o indivíduo predisposto às alergias desenvolve um estado de sensibilização a estas proteínas. A partir deste momento, em novos contatos, este indivíduo poderá apresentar reações alérgicas devido a ação de certos anticorpos ou células formadas no período de sensibilização. As reações alérgicas a alimentos apresentam-se muito frequentemente como urticária, mas podem desencadear reações graves (choque anafilático) em pessoas muito alérgicas. Acredita-se que cerca de um terço das crianças portadoras de Dermatite Atópica (um tipo de eczema crônico) apresentem algum tipo de sensibilização a alimentos. Com menor freqüência, as alergias alimentares podem estar envolvidas em sintomas crônicos do aparelho digestivo. Intolerância alimentar é o termo utilizado para designar reações não imunológicas, que podem ser decorrentes de doenças metabólicas, intoxicações, envenenamentos, de deficiências enzimáticas ou outros transtornos. 2) Quais os alimentos mais propensos a causar alergia? E intolerância? Embora qualquer alimento possa causar alergias, a imensa maioria dos quadros alérgicos é causada por leite de vaca e clara de ovo principalmente em crianças. Soja, trigo, crustáceos, peixes e castanhas também são causas importantes. O amendoim muito citado na literatura médica é uma causa de alergia alimentar (inclusive quadros gravíssimos) muito prevalente nos Estados Unidos, onde o consumo é muito elevado desde os primeiros anos de vida. Um exemplo típico de intolerância é a decorrente da deficiência da enzima que auxilia na digestão da lactose presente no leite e derivados. Este quadro é frequentemente confundido e denominado de maneira indevida, como ?alergia à lactose?. Ao passo que a alergia às proteínas do leite em grande parte das vezes desaparece com o passar do tempo, a intolerância é um quadro de evolução crônica e persistente. 3) Quais os testes usados hj para diagnóstico de alergia e intolerância alimentar? Quais as características principais e diferenças entre eles? Os testes cutâneos para alergia, empregados de maneira adequada e direcionados pela história clínica do paciente, tem grande importância na elucidação de grande parte dos casos. Podem ser complementados por exames de laboratório onde é realizada a verificação do nível de anticorpos específicos no sangue para os alimentos suspeitos. Caso persistam dúvidas naqueles quadros clínicos menos claros, dietas de exclusão e reintrodução do alimento suspeito podem ser realizadas com o objetivo de observar se ocorre o alívio e agravamento dos sintomas. No caso de intolerância à lactose (açúcar do leite), podem ser realizados testes laboratoriais de tolerância à lactose, bem como exames que avaliam a presença de açúcares nas fezes, entre outros. Em outras situações de intolerância, podem ser realizadas avaliações diagnósticas de acordo com a história clínica do paciente. Por exemplo: pesquisa de contaminações bacterianas ou por agentes tóxicos, pesquisa de doenças metabólicas, endoscopia digestiva, etc. 4) Qual a porcentagem da população mundial e brasileira afetada por alergias e intolerâncias? Levantamentos internacionais demonstram que 6 a 8% das crianças de até 3 anos apresentam alergias alimentares. Em adultos a prevalência estimada é de 2 a 4%. Não existem dados nacionais a respeito da prevalência de alergia alimentar. 5) Qual a importância de detectar alergias e intolerâncias? A presença de alergias alimentares nos primeiros anos de vida está associada a maior risco de desenvolvimento de rinite e asma mais tardiamente na infância. Sensibilidades muito fortes podem estar associadas a quadros alérgicos graves (choque anafilático). Além disso, quadros de urticária, asma ou manifestações gastrointestinais crônicas podem estar associadas à alergia alimentar. Os pacientes que apresentam manifestações clínicas como estas que não respondem bem ao tratamento, devem ser investigados quanto à alergia alimentar. 6) Conhece o Alcat Test? Quais as inovações trazidas para clínica com a aplicação desse teste? Trata-se de um exame complementar também chamado de teste citotóxico, em que são observadas alterações morfológicas de células (leucócitos), após a adição do agente suspeito. Estudos realizados para avaliação deste método não conseguiram demonstrar sua eficácia. Este e outros métodos alternativos, não são recomendados para diagnóstico de alergia alimentar pelas reconhecidas autoridades no assunto. Da mesma forma, não têm respaldo junto as principais sociedades de especialistas em alergia em todo o mundo. Em uma revisão recentemente publicada no periódico Allergy, que é a revista médica oficial da Academia Européia de Alergia, consta que este método ?não apresenta base científica racional para estabelecer diagnósticos de alergia alimentar?. Vale salientar que outros métodos como: Análise do cabelo, Cinesiologia, Iridologia, Bioimpedância, também foram avaliados e considerados sem valor no diagnóstico de alergias alimentares. Referência: Umproven diagnostic procedures in IgE mediated allergic diseases. Niggemann B, Grüber C. Allergy 2004: 59: 806-808.