A restrição desnecessária do leite de vaca causa tantos prejuízos quanto um subdiagnóstico
Apesar do crescimento da prevalência das alergias alimentares, o super diagnóstico está se tornando muito comum, já que os sintomas também podem estar relacionados a outras doenças. As alergias podem ser acompanhas por placas vermelhas no corpo, falta de ar, inchaço nos olhos, diarreia, vômitos, sangue nas fezes. Mas é preciso a avaliação de um médico muito experiente para confirmar se esses sintomas estão mesmo ligados a uma reação alérgica.
Há um grupo de oito alimentos que são os maiores desencadeadores das alergias alimentares: trigo, leite, ovos, soja, amendoim, castanha, peixes e frutos do mar. Porém, na infância, o leite de vaca ainda é considerado o maior vilão, causando reações a partir do 6º mês de vida, quando – geralmente – a mãe suspende o aleitamento materno e entram as fórmulas, que podem causar reações cutâneas e chegar até a anafilaxia. Há também os sintomas tardios nas crianças, que se manifestam por reações gastrointestinais.
A Dra. Renata Cocco, especialista da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI), explica que o médico precisa ter a certeza de estar diante de uma alergia ao leite para tratá-la corretamente. “A restrição ao leite é a dieta indicada para esses casos. Mas é preciso cautela, pois muitas crianças começam a ser alimentadas com os leites vegetais, como os de arroz, amêndoas e castanhas. Nutricionalmente, eles são muito pobres e não devem ser utilizados como substitutos únicos do leite. Em alguns casos, podem ser até nocivos pela quantidade de micronutrientes que acabam levando ao depósito no sistema nervoso central, no fígado e nos rins, comprometendo o desenvolvimento da criança”, detalha a especialista em alergia.
O diagnóstico de alergia alimentar deve seguir quatro pilares:
- A história, que deve ser muito bem avaliada por um médico experiente.
- Exames laboratoriais, que também precisam ser muito bem interpretados, pois nem sempre um IgE positivo indica que a criança seja alérgica.
- Dieta de restrição – retirar o alimento, avaliar a melhora para depois expor o paciente novamente ao alimento e, assim, ter a certeza que existe a relação de causa e efeito.
- E o teste de provocação oral, que realmente estabelece o diagnóstico. Consiste na oferta do alimento para a criança, em doses regulares, crescentes, sempre sob a supervisão médica. Deve ser realizada em ambiente apropriado, seja na clínica, hospital ou, até mesmo, dentro da UTI, dependo da necessidade que o médico julgar. Nunca deve ser realizado em casa, pois coloca a criança em risco de morte.
Mitos sobre o leite de vaca e as alergias – Os mitos em torno da alergia ao leite de vaca se propagam e é preciso esclarecer que, na verdade não têm relação alguma. “Entre eles estão os distúrbios de comportamento, isso inclui o autismo. Não existem evidências de que o leite de vaca cause autismo, o que está sendo muito divulgado. Aumento de secreção nas vias aéreas superiores também não pode ser relacionado ao leite de vaca”, conta Dra. Renata.
Asma e rinite não podem ser associadas à alergia ao leite quando não há outros sintomas, como o de pele e os gastrointestinais. Infecções recorrentes, como otites e urticária crônica seguem a mesma orientação. “É preciso saber as reais manifestações clínicas para um diagnóstico correto. A restrição desnecessária do leite causa tantos prejuízos quanto um subdiagnóstico”, alerta a médica.