Por Dra. Fatima Rodrigues Fernandes*

 A produção e disseminação de conhecimento em saúde pode ocorrer a partir de vários segmentos da sociedade, incluindo sociedades médicas, academias, órgãos públicos e por meio de institutos de pesquisa e ensino privados, que apoiam e incentivam a ciência.

O Instituto PENSI — Pesquisa e Ensino em Saúde Infantil é uma organização da sociedade civil de interesse público (OSCIP), sem fins lucrativos, fundada em 2012, em São Paulo, com o objetivo de produzir e disseminar conhecimento em Saúde Infantil, incorporada na missão da Fundação José Luiz Egydio Setúbal (FJLES), sua mantenedora. O trabalho é realizado por meio dos diferentes Núcleos: Pesquisa, Ensino, Projetos Sociais e Voluntariado, que têm estrutura própria, mas atuam em colaboração contínua com o Sabará Hospital Infantil.

O Centro de Pesquisa do Instituto PENSI conta com uma equipe multidisciplinar treinada e qualificada para a condução de estudos na população pediátrica. Com mais de 480 pesquisadores, nestes 10 anos já foram cadastradas 245 pesquisas e realizadas 189 publicações nas diferentes áreas de atuação. Outro destaque é o Laboratório de Pesquisa: implantado em 2017 para a melhoria do conhecimento de doenças imunológicas e infecciosas, o espaço tem equipamentos certificados e calibrados como citômetro de fluxo, PCR em tempo real e sala de cultura de separação de células primárias.

Alergia e Imunologia é uma das principais áreas de pesquisa e ensino, contando com renomados pesquisadores como assessores científicos, incluindo Dr. Antonio Condino-Neto, Dr. Gustavo Wandalsen e Dr. Gustavo Cabral de Miranda. Por ser uma especialidade importante em Pediatria, em função da prevalência das doenças alérgicas e impacto dos erros inatos da imunidade na saúde infantil, essa área recebe especial incentivo do PENSI para desenvolvimento de pesquisas, ensino e educação em prol da prevenção para o público geral.

Um exemplo emblemático desse apoio foi o financiamento e realização da pesquisa fase 3 sobre a importância dos TRECs e KRECs na triagem neonatal, em parceria com o ICB-USP. Para essa pesquisa obtivemos aprovação do Ministério da Saúde pelo edital do PRONAS/PCD e captamos os recursos necessários para insumos e bolsas para os pesquisadores, por renúncia fiscal de empresas parceiras. O estudo ocorreu entre 2016 e 2020, rastreando mais de 25 mil recém-nascidos de 18 maternidades participantes em nove estados (RS, PR, RJ, MT, RN, PE, PB, SP e DF) e incluindo casos encaminhados pela Rede BRAGID, com realização de mais de 500 análises laboratoriais para confirmação diagnóstica. Com essa casuística, foram publicados cinco artigos e realizadas três apresentações em congressos. Uma das contribuições dessa pesquisa foi a aprovação da política pública que visa disponibilizar o diagnóstico precoce dos erros inatos da imunidade por meio do teste do pezinho.

Em relação às doenças alérgicas, as linhas de pesquisa mais proeminentes focam asma na infância, doenças virais e asma, com um recorte para estudos sobre o impacto da covid-19 nas crianças e a asma como fator de risco associado. Outro estudo foca a epidemiologia da anafilaxia em crianças, tema de mestrado de uma aluna da Unifesp, cujos resultados preliminares foram apresentados em congressos.

Outras áreas estratégicas para ensino e pesquisa incluem Nutrologia, Infectologia, Neurodesenvolvimento e Primeira Infância, Autismo, Medicina Intensiva Pediátrica e Telemedicina. Em parceria com o Instituto de Estudos Avançados da USP, temos uma linha de pesquisa em georreferenciamento de condições de saúde, avaliando o impacto local de moradia, nível socioeconômico e fatores ambientais, como poluição na saúde de crianças e adolescentes. Em parceria com neurocientistas de Harvard, Tulane e Maryland, faremos um estudo que busca entender os agravos ao neurodesenvolvimento em crianças institucionalizadas, comparadas às que ficam com famílias acolhedoras.

No campo da formação de profissionais da saúde, temos dois programas de residência médica e oferecemos campo de estágio e de pesquisa para centenas de residentes, graduandos e pós-graduandos de diferentes instituições. Contribuindo para a disseminação do conhecimento, realizamos simpósios, webinares e cursos; e, a cada dois anos, temos um congresso multiprofissional sobre saúde na infância e adolescência, que, nas últimas duas edições, reuniu quase dois mil participantes. No âmbito do ensino digital, o Instituto PENSI possui uma plataforma para disseminação de conhecimento (https://ead.ensinosabara.org.br) com cerca de 180 cursos e treinamentos, que já contabilizam mais de 58 mil matrículas.

Em relação aos projetos sociais, em 2018 fizemos um treinamento de profissionais da Estratégia Saúde da Família do Amazonas para reconhecimento de sinais precoces de câncer infantojuvenil, com aprovação pelo edital PRONON do Ministério da Saúde. Atualmente, trabalhamos na capacitação de cuidadores de creches públicas para cuidados de saúde, além de acolhimento e orientações a famílias com crianças com autismo. Em 2022, iniciaremos um ambulatório de especialidades para atendimento e realização de exames em crianças da rede pública, em colaboração com a Secretaria Municipal da Saúde da Prefeitura de São Paulo.

Dessa forma, agregando profissionais e instituições parceiras, o Instituto PENSI almeja contribuir para o propósito da FJLES: uma infância saudável para uma sociedade melhor.

* Dra. Fatima Rodrigues Fernandes é segunda-vice-presidente da ASBAI e diretora executiva do Instituto PENSI