Brasil está à frente de vacina contra AIDS

Brasil está à frente de vacina contra AIDS

*Foto por: Yeska Nakamura

Até dezembro, macacos da espécie Rhesus, que possuem o sistema imunológico mais semelhante ao do ser humano, serão utilizados em teste para uma vacina que pretende neutralizar o vírus HIV.
O estudo, inédito no Brasil, tem à frente os pesquisadores do  Laboratório de Imunologia do Incor (Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo) e do Laboratório de Investigação Médica da FMUSP (Lim 60):  doutores  Edecio Cunha Neto, coordenador do estudo; e Jorge Kalil, diretor do Laboratório do Incor e membro da ASBAI.
O novo imunizante, denominado HIVBr18, começou a ser estudado e desenvolvido em 2001, quando os cientistas analisaram o sistema imunológico de um grupo especial de portadores do vírus, que mantinham o HIV sob controle por mais tempo e que demoravam para adoecer. No sangue dessas pessoas, a quantidade de linfócitos T do tipo CD4 – o principal alvo do HIV – permanecia mais elevada que o normal.
O objetivo é encontrar a forma mais eficaz de imunização para ser usada em humanos. “Neste primeiro momento estamos testando como a vacina pode potencializar a proteína que neutraliza a evolução do vírus”, conta o Profº. Dr. Cunha Neto. A etapa em que agora adentra a pesquisa terá três fases, sendo esta primeira, a do teste em macacos, com duração de 24 meses.
Apoiam o estudo o Instituto de Investigação em Imunologia, o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCTs), o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ) e o Ministério da Saúde.

Butantan – A etapa da pesquisa que começa agora, com testes na colônia de macacos Rhesus, tem o apoio do Instituto Butantan, uma parceria que envolve as pesquisadoras Susan Ribeiro (Fac. Medicina USP), Elizabeth Valentini e Vania Mattaraia.
“Nosso objetivo é testar diversos métodos de imunização para selecionar aquele capaz de induzir a resposta imunológica mais forte e então poder testá-lo em humanos. Além da vacina de DNA originalmente criada, vamos colocar os nossos peptídeos dentro de outros vírus vacinais, como o adenovírus de chimpanzé, vacina da febre amarela ou o MVA, e selecionar a melhor combinação de vetores”, afirmou Cunha Neto.
O valor estimado para concluir as três fases da pesquisa até o teste de eficácia em humanos é de R$ 250 milhões. Até o momento, somando o financiamento da FAPESP e do governo federal, foi investido cerca de R$ 1 milhão no projeto.

Panorama – Atualmente são 33 milhões de pessoas infectadas pelo HIV, no mundo. No Brasil, este número está estimado entre 1,0 e 1,5 milhão de indivíduos. Só em 2012, foram cerca de 20 mil mortes no país, causadas pelo vírus.
“Muitos que morrem de AIDS hoje desconhecem que são portadores ou demoraram muito para recorrer aos tratamentos existentes, tornando os remédios disponíveis obsoletos, diante do fortalecimento do vírus; especialmente entre os jovens, a infecção pelo HIV foi banalizada, há a noção errônea de que basta tomar os antivirais”, disse o Profº Dr. Cunha Neto.
Na década de 90, quando os primeiros casos começaram a ser divulgados, pensava-se que a doença estava restrita a homossexuais, o que veio a ser desmentida rapidamente com os registros de transmissão entre heterossexuais também. “A AIDS, que ainda mata milhões de pessoas pelo mundo ainda tem como único recurso realmente eficaz a prevenção da transmissão”, explica o Profº. Dr. Cunha Neto.

 

Esse texto contou com a apuração da jornalista da assessoria de imprensa da ASBAI e com informações publicadas pela Agência FAPESP: http://agencia.fapesp.br/17655