Exposição a microplásticos e nanocosméticos pode agravar alergias e comprometer a barreira da pele
Exposição a microplásticos e nanocosméticos pode agravar alergias e comprometer a barreira da pele
A presença crescente de micro e nanoplásticos no ambiente e em produtos de uso diário, incluindo cosméticos e itens de higiene pessoal, acende um alerta na comunidade médica.
A interação contínua com microplásticos (MiPs) e nanoplásticos (MNPs) pode comprometer a função de barreira das superfícies epiteliais, abrindo caminho para a penetração de alérgenos, irritantes e microrganismos, e desencadeando cascatas inflamatórias.
Quando a barreira epitelial é rompida, ocorre uma alteração da microbiota local e uma ativação imunológica do tipo Th2, fenômenos que, em conjunto, favorecem o desenvolvimento e a exacerbação de quadros como asma, rinite alérgica, dermatite atópica e alergias alimentares.
No campo dos cuidados pessoais, a especialista destaca que formulações que utilizam tecnologias nano – frequentemente presentes em produtos de beleza e higiene – podem representar risco adicional, sobretudo para pessoas com histórico atópico.
Os nanocosméticos, por incorporarem partículas em escala nanométrica e, muitas vezes, microesferas ou fragmentos plásticos, tendem a facilitar a quebra e a penetração dessas partículas na pele e nas mucosas. Há associação entre a presença de micro e nanoplásticos e o aumento tanto da prevalência quanto da gravidade de doenças alérgicas, com especial destaque para a dermatite atópica. Esse efeito é potencializado quando a pele já está fragilizada por ressecamento, irritação prévia ou uso de substâncias esfoliantes que promovem microabrasões.
A rotina de higiene e beleza merece atenção – Produtos como esfoliantes faciais e corporais que contêm microesferas, além de pastas e escovas de dente e até materiais usados em obturações de próteses dentárias, podem elevar a probabilidade de fracionamento dessas partículas em tamanhos ainda menores.
Isso aumenta a capacidade de atravessar a barreira cutânea, tornando mais difícil tanto a identificação clínica da causa da irritação ou sensibilização quanto o manejo a longo prazo. Na prática, a história clínica de pacientes com dermatite recorrente, rinite persistente ou crises de asma desproporcionais aos gatilhos habituais deve considerar a possibilidade de exposição crônica a micro e nanoplásticos, inclusive por vias não óbvias.
Além das reações clássicas de hipersensibilidade, a exposição prolongada a MNPs pode modular a resposta imune por vias adicionais. A literatura científica aponta mecanismos como estresse oxidativo, inflamação sustentada, indução de apoptose celular, disbiose da microbiota e desorganização de junções intercelulares da barreira. Esses processos, por si só, já contribuem para um ambiente biológico propício a respostas alérgicas exacerbadas. Em conjunto, podem reduzir o limiar para sensibilização a outras substâncias e perpetuar um ciclo de ruptura de barreira, colonização microbiana desequilibrada e hiper-reatividade imune, com repercussões sistêmicas em indivíduos susceptíveis.
Para a população em geral, e especialmente para pessoas com histórico de alergias respiratórias, cutâneas ou alimentares, recomenda-se a leitura dos rótulos para identificar a presença de microesferas ou polímeros comuns em microplásticos, como polietileno (PE) e polipropileno (PP).
A preferência por esfoliantes de base enzimática ou com partículas biodegradáveis, a redução do uso de glitter plástico e a atenção a formulações que ostentam selos de “microbead-free” podem ajudar a mitigar riscos.
A melhor recomendação, porém, é a educação e a conscientização dos governos e da população sobre as graves consequências dos microplásticos em nossas vidas. Precisamos de informação clara, rotulagem adequada e políticas públicas que promovam alternativas seguras.
